A PRODUÇÃO DE MASCULINIDADES NA POLÍCIA MILITAR

NOTAS FOUCAULTIANAS

Autores

  • Eneida Santiago Universidade Estadual de Londrina (UEL)
  • Daniela Cecilia Grisoski Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Palavras-chave:

Instituição policial, Gênero, Relações de poder

Resumo

Este artigo problematiza a construção de masculinidades no contexto da instituição Polícia Militar a partir da análise de um edital de concurso da PM do Paraná que colocava a característica “masculinidade” como item a ser mensurado na etapa de avaliação psicológica. A partir de alguns operadores foucaultianos, entendemos o edital como um dispositivo articulador de estratégias disciplinares e, assim, ativador de jogos de saber-poder, constituindo discursos e subjetividades e buscando identificar indivíduos em um exercício sustentado por um olhar calculado para, se aprovados, serem cooptados como engrenagem do poder disciplinar da instituição e contribuintes para a manutenção da segurança em uma estratégia de governamentabilidade. Especificamente, a noção de masculinidade privilegiada era a de uma forma historicamente constituída e naturalizada de ser e viver, chamada de masculinidade hegemônica, ou seja, uma masculinidade considerada apropriada em uma estrutura de relações de gênero que, abandonando biologicismos, articulam questões sociais, culturais, econômicas e subjetivas que são de experiências contraditórias do poder masculino por serem exatamente os mesmos sistemas que constituem privilégios e fortalecimento para os homens, inclusive na manutenção da dominação sobre as mulheres, ao mesmo tempo em que os oprimem e os brutalizam, podendo causar dor e sofrimento.

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Publicado

18/05/2024